Discípula de Edgar Allan Poe na arte da construção atmosférica, Schweblin sugere mais do que afirma e, com isso, nos conduz a um clima de alta voltagem premonitória. Ao adentrar seu universo, sabemos que basta um ínfimo detalhe para que a tragédia se anuncie e o familiar se torne estranho, revelando-se toda a fragilidade do nosso pacto com o real. Como afirmou o escritor espanhol Enrique Vila-Matas, "há um antes e depois" da leitura de Schweblin, restando "a lembrança de algo que nunca nos deixará".
Os contos dão atenção a personagens que frequentemente não têm espaço na literatura. É o caso dos animais — o coelho em "Bem-vinda à comunidade", ou o cavalo de "Um animal fabuloso" — e das mulheres mais velhas, inesquecíveis, de "William na janela" e "A mulher de Atlántida". Sem sociologizar, Schweblin enfoca os atípicos ("O olho na garganta") e outros aspectos de marginalidades sociais, como as atitudes do rapaz desajustado de "O Todo-Poderoso faz uma visita".
Talvez por isso as seis histórias deste livro sejam a um só tempo trágicas e venturosas, permeadas por culpa, solidão e luto, mas também por laços de família, amor e saudade. Através do insólito que desorganiza a vida, tudo se passa conforme o título anuncia: o mal é um bem necessário. Ou, ainda — porque nas narrativas nada é o que parece —, a bondade pode ser maléfica.
Samanta Schweblin nasceu em Buenos Aires em 1978 e desde 2012 vive em Berlim. Vencedora de prêmios importantes como Juan Rulfo, Casa de las Américas e National Book Award, é autora dos volumes de contos reunidos em Pássaros na boca e Sete casas vazias (Fósforo, 2022) e do romance Distância de resgate (Fósforo, 2024), que foi adaptado para o cinema e, assim como Kentukis (Fósforo, 2021), finalista do International Booker Prize. Sua obra foi traduzida para mais de quarenta idiomas.